RAP e Psicodelia Poética Musical no Bar São Jorge

A arte está sempre aberta aos mais diversos encontros, unindo na mesma mesa pratos repletos de gostos diferentes, mas que comungam com o desejo de provar a beleza da poesia enraizada nas mentes e circulante nas veias artísticas. Assim se deu o “São Jorge – Encontro artístico músico poético” no sábado dia 11/03/2023, no Bar São Jorge, localizado à Rua Matias Barbosa, 10, Bairro Floresta.

O evento uniu artes visuais, poesia, música, canto, dança, Rap e muita energia do público, o que transformou o São Jorge em um espaço místico, conectando magia e celebração, em uma avalanche de diversidade e eclosão cultural.

O espaço teve como decoração a amostra “Bichos, Paus e Peças” do artista Kenny Mendes, que afirma serem fragmentos da sua pesquisa/prática de vida que começou a tomar esse formado em 2014. Nascido em Capivari dos Eleutérios, pequeno vilarejo no centro oeste mineiro, donde vem sua família materna e paterna, local onde nasceu e morou na infância.

O artista afirma: “Cresci com meus pais na lida de plantio e colheita, caçando passarinho com estilingue no meio da mata. Em algum momento comecei a separar umas ‘furquia’ pra fazer estilingue como na infância, depois comecei a ver outras formas nos galhos. As vezes fazia uma foto pra registrar apenas, mas daí comecei a levar esses galhos para casa e trabalhá-los. Desse universo surgiram as esculturas, furquias, bichos, peças, paus de força, que viraram versos, poemas, músicas, reflexões, fotos, vídeos. Então é isso, “Bichos, Paus e Peças”, é uma amostra de esculturas, com versos, músicas e projeção de imagens, concluiu Kenny Mendes.

Com uma temática toda trabalhada em várias vertentes artísticas, o palco estava pronto para o coletivo Barulho Músico Poesia. Formado por Dudu, Marcos Assis, Rômulo e Francis, o BMP apresentou uma música experimental com poesias visuais, faladas, sonoras, corporais. Para a psicodelia ser completa e abrilhantar ainda mais o ambiente, a poeta, cantora, compositora e instrumentista Yasmim Salim, trouxe ao palco uma homenagem a algumas artistas de Belo Horizonte e convocou o público a compartilhar os microfones e os holofotes em uma diversificada salada poética, músico, instrumental, que Yasmim resumiu com os seguintes versos:

“A contemporaneidade grita calada

Nos peitos afoitos por reconhecimento

Nossos ídolos ainda são os mesmos

Presa em casa, não vejo

Flávia, Flávio

Apenas gênios

revelados pelas lâmpadas

da indústria cultural.

Deus ilumine a margem

Com a fagulha que deixou em nós,

Peitos afoitos”. (Yasmim Salim)

Dudu Luiz comandante da viagem sonora produzida por seus efeitos especiais músico psicodélicos, declarou: “esse entardecer e noite no Bar São Jorge superou as fronteiras artísticas entre a poesia, a escultura e a música rap de BH. O que vi e vivi foi um transe fenomenal de mescla da diversidade cultural por meio de uma performance coletiva e colaborativa entre as esculturas em madeira do artista Kenny Mendes, a poética musical da Yasmim Salim, o ritual musicopoético do BarulhoMusicoPoesia e as batidas e letras do RAP da Zoogang”. (@duduluizsouza)

Para fechar a noite subiu ao palco a galera da Zoo Gang, com a presença de Art, Drop, Lucão Zombie, Mansani, PKdu7, que através do seu Conteúdo Explícito Musical, demonstrou toda a força do RAP, vinda da periferia da cidade. Um grito de fúria, rebeldia, revolta, mas também uma efusão de talento em forma de música, rima e protesto, com uma linguagem única e inconfundível, que ecoa dos becos, favelas, vilas e guetos de BH e região metropolitana.

Uma noite de sábado com a pura essência da universalidade inventiva que o underground traz na sua identidade e utiliza para fortalecer a caminhada, em forma de resistência, luta e construção coletiva cultural. 

Por Elmo Sebastião

Fotografias: Elmo Sebastião – O Maior Anão do Mundo