A história do Cinema Brasileiro

“O incêndio na nossa Cinemateca Brasileira em São Paulo é uma tragédia anunciada.

Toda a nossa cultura das artes sofre um “cala a boca” neste momento.

Mas vamos renascer, tenho certeza. Nós temos certeza.”

(Fernanda Montenegro)

Dedico esta coluna à Cinemateca e às artes brasileiras como ato de resistência.

A história do Cinema Brasileiro

A história do cinema nacional teve seu início em 1898 com produções de pequenos documentários realizados pelos imigrantes Affonso e Paschoal Segreto de dentro de um navio que passava pelo Rio de Janeiro. Eles filmaram a Bahia de Guanabara. Logo depois, houve outros documentários de festas e batizados de famílias ricas.

Nos idos de 1907 foi criado um local adaptado sob o nome de Cinematographo Parisiense, onde atualmente funciona o Teatro Glauber Rocha, na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro.

Foi inaugurado em 1909 o primeiro cinema brasileiro, Cine Soberano, no Rio de Janeiro. Uma década depois dos primeiros documentários foi produzido um total de 209 filmes em 1910, e, no ano seguinte, mais 211 filmes. Após o ano de 1911, as produções brasileiras foram diminuindo o ritmo devido ao começo do domínio do mercado cinematográfico americano.

Cine Soberano – Rio de Janeiro

Primeiras décadas do Cinema nacional

Durante as décadas de 20 e 30, o cinema brasileiro ganhou um impulso, denominado Ciclos Regionais, em pontos distintos do País: Recife (PE), Belo Horizonte (MG), Cataguases (MG), Taubaté (SP), Porto Alegre (RS).

Nesta época, o Ciclo Cinematográfico de Cataguases, em Minas Gerais, foi um dos mais férteis, com produções como Canga Bruta (Humberto Mauro, 1933), considerado um dos melhores filmes do Cinema Nacional. O filme Acabaram-se os otários (Luiz de Barros, 1929) foi o primeiro filme sonoro do Brasil.

Nos anos 30, através dos estúdios Cinédia, cresce a força do mercado consumidor cinematográfico brasileiro com a inserção das Chanchadas, uma fórmula de comédia musical que garantiu ao cinema brasileiro uma continuidade de 20 anos, lançando atores como Grande Otelo, Oscarito e Dercy Gonçalves.

Na década de 40, a Atlântida, considerada uma das maiores produtoras que já existiu no Cinema Nacional, tendo como objetivo inicial a intenção de alavancar o desenvolvimento industrial do cinema brasileiro, produziu na época um total de 62 filmes. Um dos grandes sucessos da Atlântida foi Moloque Tião (José Carlos Burle, 1943), estrelado por Grande Otelo. No fim desta mesma década, a credibilidade crescente da produtora atraiu o interesse de vários investidores.

Cinema Novo

Em meados dos anos 50 surge uma nova estética do cinema nacional. Nessa época, são produzidos os filmes que se tornaram uma referência, produções que inseriram ao cinema brasileiro temáticas e linguagens nacionais, criando-se assim o Cinema Novo. Os principais filmes que representam este período são: Rio 40° Graus (Nelson Pereira dos Santos, 1955) e O Pagador de promessas (Anselmo Duarte, 1962), premiado em Cannes em 1962.

Nos anos 60, a combinação de uma boa ideia, originalidade, ousadia e, óbvio, uma câmera na mão, culminavam em arte primorosa. Os cineastas brasileiros levaram para as telas filmes de orçamento discreto com a finalidade de apresentar os problemas sociais vividos no Brasil.

São representantes principais deste momento de nosso cinema nacional, filmes com relevância fundamental até os dias de hoje: Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963), considerado o precursor desse movimento e o excelente Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964). Estes filmes se concentram na temática rural com abordagens em problemas básicos da miséria brasileira, principalmente na região do nordeste. O Cinema Nacional a partir de 1964, após o golpe militar, é delineado pela temática focada na classe média urbana.

O cinema brasileiro no período da ditadura buscou formas de contornar a situação de perseguição e censura vividas pela cultura e arte daquela época. Foram lançados dois filmes de grande importância para o cinema nacional: Terra em Transe (Glauber Rocha, 1967) e Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969). Ainda em 1969, foi criada a Embrafilme, um organismo estatal de produções que financiava, produzia e distribuía os filmes; órgão importante para a multiplicação do cinema nacional.

Décadas de 70 e 80

O Cinema Novo continuava gerando frutos nos anos 70; estreia obras significativas como: Dona Flor e seus dos maridos (Bruno Barreto, 1976); A Dama do Lotação (Neville de Almeida, 1978); Toda Nudez será castigada (Arnaldo Jabor, 1972); Pixote (Hector Babenco, 1981); Bye, Bye Brasil (Cacá Diegues, 1979).

Neste mesmo período, surge o estilo de filmes “A Boca do Lixo”, no bairro da Luz, em São Paulo, reduto do cinema independente brasileiro naquela época. Eram produções paulistas de pornochanchada com títulos extravagantes, forte apelo sexual e temáticas eróticas. Mesmo contando com poucos recursos, ganhou uma boa parcela do público brasileiro. Além da pornochanchada, outros gêneros foram explorados pelo “Boca do Lixo”: o submundo das drogas, prostituição e o gênero terror. Este em destaque graças às produções de José Mojica Martins, o famoso “Zé do Caixão”. Suas produções arrastaram um público considerável ao cinema nacional com seu estilo peculiar, como no filme Exorcismo Negro (1974). Mojica é considerado inspirador do “Movimento Marginal” no Brasil, movimento sociocultural que atingiu as artes (música, cinema e artes plásticas).

E o Brasil chega na década de 80 com até 100 produções por ano, vivendo o auge do Cinema Nacional. Nesta década, as produções brasileiras podiam tocar em temáticas mais polêmicas, até então proibidas e censuradas pela ditadura militar, já que em meados dessa década acontecia a abertura política, favorecendo as discussões sobre esses temas, como nos filmes: Pra frente Brasil (Roberto Farias, 1982), o primeiro filme a expor a tortura no Regime Militar e Eles não usam Black-Tie (Leon Hirszman, 1981).

Década de 90 aos anos 2000

A crise no modelo de financiamento estatal de verbas culmina na extinção da Embrafilme em 1990, e, em 1993, o cinema nacional ressurge de forma limitada, porém, com filmes de boa qualidade.

Os filmes brasileiros foram premiados internacionalmente nos anos 90, como Central do Brasil (Walter Salles, 1998), tendo recebido neste mesmo ano, o Urso de Ouro de melhor filme e atriz (Fernanda Montenegro) e o filme Eu, Tu e Eles (Andrucha Waddington, 2000) saiu vitorioso no festival de Havana em 2000, assim como a atriz Regina Casé.

Nesta década, o país foi indicado ao Oscar de Melhor filme estrangeiro por três vezes: O Quatrilho (Fábio Barreto, 1995), O que é isso Companheiro? (Bruno Barreto, 1997) e Central do Brasil, contando, também, com a indicação de Fernanda Montenegro como melhor atriz estrangeira ao Oscar do ano de 2000.

Outra vertente popular do cinema brasileiro é o chamado “Favela Movie”, uma mistura de ação policial, guerra ao tráfico e violência; produções que criam um espetáculo no cotidiano das favelas e misérias, com uma narrativa realista. Como exemplos: Cidade de Deus (Fernando Meireles, 2002); Tropa de Elite 1 e Tropa de Elite 2 (José Padilha, 2007 e 2009).

Anos 2000 aos dias de hoje

A partir dos anos 2000, o cinema brasileiro passa a produzir seus “Blockbusters” (filmes de grande sucesso ou popularidade). Com a ascensão da Globo Filmes, com sua expertise e estratégia, consegue transportar para o cinema a estética televisiva das novelas e minisséries da Rede Globo de televisão, trazendo para a telona do cinema um público ávido por seus ídolos da telinha. Filmes como: O Alto da compadecida (Guel Arraes, 2000), Lisbela e o Prisioneriro (Guel Arraes, 2003), Os Normais (José Alvarenga Júnior, 2003) e Sexo, Amor e Traição (Jorge Fernando, 2004).

O gênero comédia para o cinema nacional, além de trazer filmes com temáticas divertidas e simples, levavam à telona algumas produções inspiradas em sucessos de novelas, série de televisão e teatro, encabeçadas por atores e alguns diretores Globais, resultando em grandes bilheterias e cifras milionárias. Os produtores, apostando no sucesso de público de alguns desses filmes, realizaram suas continuidades, como: Até que a Sorte nos separe 1,2 e 3 (Roberto Santucci, 2012, 2013 e 2015), De pernas para o ar (Roberto Santucci, 2010, 2012, 2015) e Minha mãe é uma peça 1, 2 e 3 (André Pellenz, César Rodrigues, Susana Garcia, 2013, 2016, 2019), sendo que Minha mãe é uma peça 3 foi recorde de bilheteria na história do cinema nacional, faturando 143,9 milhões de reais, vendendo 9,1 milhões de bilhetes.

O cinema nacional tem sofrido atualmente graves ataques. A Agência Nacional do Cinema (ANCINE) é paralisada em 2020, órgão oficial do governo federal do Brasil, criado no governo de Fernando Henrique Cardoso, cujo objetivo é fomentar, regular e fiscalizar a indústria cinematográfica e vídeo fonográfica nacional, e o Ministério da Cultura é transformado em Secretaria da Cultura ficando agregada ao Ministério do Turismo. O que está acontecendo com o cinema nacional é o que acontece também com todos os setores das artes e cultura no atual momento, verbas diminuídas ou simplesmente cortadas, um desmonte do cinema e das artes de modo geral.

Que viva o cinema nacional e sobreviva à falta de investimentos! Vida longa e próspera ao cinema nacional que é criativo e sabe se reinventar!

Convido a todas e todos que acompanham esta coluna para um capítulo à parte sobre o nosso resistente Cinema Nacional. Nas próximas colunas, abordaremos os filmes do quarteto que encantou toda uma geração, inclusive a minha, Os Trapalhões e um dos ícones do cinema brasileiro Amácio Mazzaropi, o eterno “Jeca Tatu”.

Bons filmes e arte na vida sempre!!!

Por: Andréia de Oliveira

Referências Bibliográficas:

http://www.todamatéria.com.br

http://www.aicinema.com.br

https://super.abril.com.br

http://www.camara.org.br

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