
Paraisópolis com Divinópolis. Esta é a esquina onde tudo começou, e não poderia ser outro o resultado. Os meninos cheios de vivacidade, talento, muita energia, encontraram o Paraíso misturado ao Divino e a magia foi feita. Uma abençoada esquina, local propício para germinar um encantador encontro de gênios musicais, jovens artistas escolhidos pela mãe natureza para transformar um ponto geográfico em um berço artísitico, um vulcão em erupção poética constante, que eclodiu e com suas lavas lançadas ao ar em forma de notas musicais, arpejos, poemas, harmonias, entraram em sintonia com o pensamento e o movimento vivido nos anos 60. Libertários, revolucionários, atrevidos, inquietos, contestadores, assim como todo jovem, os meninos do Clube da Esquina marcaram e mudaram para sempre a história do Bairro Santa Teresa, de Belo Horizonte, das Minas Gerais e do mundo.

Eis que algumas décadas depois do início dessa avalanche sonora, examente no dia 01 de dezembro de 2015, criado e idealizado por Virgínia Camara, foi inaugurado o Bar do Museu Clube da Esquina. Um espaço que poderia se chamar “Casa dos Sonhos”, pois como dizem os meninos em uma de suas músicas, sonhos não envelhecem e o Museu Clube da Esquina surge para manter acessa a lava vulcânica que impulsionou essa garotada e para que o sonho que eles plantaram em nossos corações não perca força e possa ser reverberado para que as novas gerações tenham o direito de vivenciar um pouco desse sonho, que há muito se tornou uma grande realidade.
No fim de semana de 29 e 30 de novembro e 01 de dezembro de 2024, foi comemorado os 09 anos de existência e resistência desse lugar incrível, que é o Bar do Museu Clube da Esquina, e como não poderia deixar de ser, para esta ilustre data, grandes músicos e o público foram convidados a participar desse ensejo.
Na primeira noite de celebração um presente de abertura digno do tamanho do acontecimento celebrado. A inauguração da exposição “Vovô Cientista”, do artista plástico Gilberto de Abreu. O quadro que é o anfitrião da exposição é a pintura que foi usada na capa do disco de Beto Guedes, Sol de Primavera, lançado em 1979. Gilberto apresenta ao público uma “exposição imersiva e inovadora. Desta vez a obra ganha movimento, e o artista, como personagem de sua própria criação, leva o público a uma jornada pelos mundos visuais e sensoriais que sempre permearam sua arte. Com uma carreira marcada pela fusão de poesia, música e imagem, Gilberto transforma sua inspiração em experiências cinematográficas, e pictóricas únicas. Vovô Cientista é mais do que uma exposição; é um convite para explorar o universo vibrante de um artista que une a profundidade da representação figurativa ao humor e ao amor, criando um diálogo constante entre o concreto e o abstrato.” (texto de abertura da exposição no Bar do Museu Clube da Esquina)




Além da abertura da exposição, no dia 29 de novembro de 2024 aconteceram dois grandes shows nesta noite memorável. Gabriel Guedes, filho mais velho de Beto Guedes, que nesta noite tocou teclado, trompete e vocal, recebeu no palco O Quarteto de Cordas, formado por Marcelo Morais Alves, violino, Aristóteles Medeiros, viola, André Lodi, violino, Demósthenes Júnior, violoncelo. Este quinteto brindou os presentes com grandes canções da música clássica tradicional mundial, composições de Gabriel Guedes, do seu avô Godofredo e é claro, como não poderia faltar, sucessos do Clube da Esquina, uma demonstração do alto nível que foi a festança na passagem deste aniversário especial.

A segunda atração da noite ficou por conta da família Borges, que no palco estavam presentes Rodrigo Borges ao lado de seu pai Marilton Borges, com os convidados Ian Guedes e Afonsinho, que debulhou a sua guitarra em acordes melodiosos e solos intensos e viajantes. Com um show totalmente voltado para o estilo Clube da Esquina de ser, essa galera trouxe de volta o espírito da Paraisópolis com Divinópolis e contagiou o público do local, realizando um verdadeiro baile do Clube da Esquina.

No sábado, dia 30 de novembro de 2024, a festança começou cedo. Às 12 horas o Bar do Museu Clube da Esquina abriu as suas portas ao público em geral, e aos poucos o espaço foi sendo tomado por admiradores da arte e da cultura. 14 horas, essa foi a hora mágica. O samba começou a ecoar alto no Santa Teresa, era o iníco do belo show das meninas do Grupo Samba Delas BH, que é composto por Paty Valente, Luíza, Dionne, Lau, Adriana e Ana Tereza.
Mas para a apresentação festiva no Museu Clube da Esquina, o Samba Delas BH, foi representada por Paty, voz e violão, Lau, pandeiro, Luíza, rebolo, Dionne, surdo e Sione, chocalho e ainda teve a participação, mais do que especial, de Cláudia Costa.
Um grupo que surgiu do desejo e vontade de amigas em curtir um samba e levá-lo ao público com alegria e leveza. As meninas disseram sobre o prazer de fazer parte desta passagem tão importante para o espaço: “O convite para participar e tocar em comemoração aos 9 anos do Bar do Museu Clube da Esquina foi recebido com entusiasmo e alegria. Um privilégio para nós, do grupo, cantar nesse espaço que mantém viva a história do Clube da Esquina e ainda poder trazer para o samba canções que são verdadeiras poesias.”
O Samba Delas BH trouxe para o público um samba de roda de primeira qualidade, mesclando grandes clássicos do samba raiz, sucessos do pagode e ainda versões maravilhosas de músicas do Clube da Esquina e transformou o espaço do Bar do Museu em uma apoteose carnavalesca, com o público sambando e cantando de pé, demonstrando que todo mundo presente era bamba e que não vão deixar o samba morrer.

Ao anoitecer em BH, uma inesperada chuva, bem forte caiu, mas no lugar de desânimo trouxe com ela uma energia incrível que tomou conta do palco com a apresentação de Danieira, que com arpejos harmônicos e melodias perfeitas, fazia com que o violão e suas cordas faltassem cantar, mas, isto ficava por conta do próprio Danieira. Até que subiu ao palco para fazer companhia a essa dupla, Danieira e seu violão, a talentossíssima Bianca Luar, que não chegou sozinha, levou contigo sua inigualável voz e seu inseparável pandeiro. E ao ouvir os primeiros arpejos da voz de Bianca, se descobre o porque do seu nome artístico “Luar”, o seu timbre maravilhoso de voz, assim como o brilho lunar, nos faz viajar por infinitos devaneios sonoros indescritíveis, mas, sensíveis aos tímpanos e à imaginação utópica sonhadora.
A partir desse momento o show se transformou em um conserto acústico visceral que levantou e emocionou o público presente, comandados por Bianca, se transformaram em uma orquestra de percussão, onde suas mãos se converteram em potentes batidas melódicas, cadenciadas ao eco da voz poderosa e suave de Bianca, com a grave sonoridade de Danieira.






Para finalizar a noite, João Beleza convidou nada mais, nada menos que Tadeu Franco. Para iniciar a cantoria João Beleza, acompanhado de seu violão, deu início ao encantamento do público com a composição de Tavinho Moura e Fernando Brant, Paixão e fé, o cantor seguiu sozinho oeferecendo ao público um show mais intimista, até que chamou ao palco o restante de sua banda, formada por Rafael Frois, Percussão, Marcelo Costa, Baixo, Matt Lima, Guitarra, que desfilaram músicas lado B e também grandes clássicos da música mineira e MPB como um todo.
Tadeu Franco foi convidado a subir ao palco e ao lado de seu violão deixou o público enfeitiçado com o poder da música dos Vales Mucuri e do Jequitinhonha, a ponto se sentir nos altos das montanhas mineiras descobrindo seus segredos e mistérios delirantes como a consonância sonora ecoada no ambiente inigualável do Bar do Museu Clube da Esquina.
Para arrebatar os corações e os tímpanos, João Beleza e sua trupe voltam à cena, dividindo o palco com Tadeu Franco e presenteando o mundo com versões de Encontros e despedidas, Maria, Maria, de Milton Nascimento, e Para Lennon e McCartney de Lô Borges. Mas, o grande final mesmo ficou por conta da interpretação de Tadeu Franco ao lado dessa moçada da pesada, entoando a lindíssima canção Nós Dois, de Celso Adolfo, que Tadeu lançou em 1984, inserida no disco “Cativante”.





No domingo, 01 de dezembro de 2024, data oficial do aniversário de 9 anos do Bar do Museu Clube da Esquina, Virgínia, durante o show de Sanducka Brasil, convidou a todos e todas presentes a realizarem um brinde a essa passagem tão significativa para o espaço.


Para o show que marcou o epílogo dessa celebração, Sanducka Brasil, convidou Evan Megaro, que juntos tiveram o acompanhamento do violão de Sanducka e do teclado de Evan. Esse quarteto mágico desfilou canções da galera do Clube da Esquina, como Clube da Esquina 2, misturadas a canções de Vander Lee, Chico Buarque, entre outros grandes clássicos da MPB. A cada música iniciada podia-se notar uma sintonia entre os dois músicos, como se tocassem juntos há muitos anos, até que Sanducka revelou que era a primeira vez que ele e Evan dividiam um palco, mais ainda, que haviam acabado de se conhecer, e que tudo que estava acontecendo era por conta da magia da arte.

9 anos se passaram, e o espírito jovem, revolucionário, poético, artísitco está vivo e o público torce para que seja mantido por muitas primaveras, muitas passagens, viagens, travessias, e esse desejo parece que será alcançado, pois, o Bar do Museu Clube da Esquina seguirá por essas estradas ofertando encontros, chegadas e despedidas, tudo para manter acessa a lava vulcânica que inspirou os garotos a mais de 50 anos atrás, pois, como disse Tadeu Franco: “O Clube da Esquina é uma árvore sonora de florações eternas, onde muitos se fartam.”
Por Elmo Sebastião – O Maior Anão do Mundo